quinta-feira, novembro 06, 2008

Auto-poluição Reflexiva

De repente eu percebo as coisas ao meu redor. A fumaça que entra pela minha boca e sai pelo nariz inicialmente não me causa incomodo algum. Um banquinho de concreto direciona minha onda. Um poste logo a frente atrapalha a vista. Os carros passam. As pessoas passam. Eu, estático, continuo observando.
A taquicardia chega. Sempre é da mesma forma. Me ocorre um medo súbito da morte. Não sei de onde veio, talvez nas próprias propagandas anti-tabagismo em revistas, que avisam para uma considerável possibilidade de um fulminante ataque do coração. Eu sustento essa idéia, o coração acelera absurdamente, pode ser que seja agora.
Logo eu vou me acostumando com o ritmo acelerado. Mas naquele momento parece que nada está, ou vai dar, certo. As pessoas parecem correrer pelas ruas ao invés de caminharem. O céu não parece mais o mesmo, talvez um meteoro rasgue-o agora e termine com esse fim de tarde de maneira explosiva.
A quentura do ambiente ajuda um pouco esta inquietação mental. Faltam apenas dois tragos. Fixo meu olho num coqueiro perto. O ar invisível à minha frente de repente parece tomar forma. É um momento de alucinação momentânea. Vejo o ar transparente como se fosse uma fumaça bem clarinha, ou até mesmo aquele ar quente que se vê acima do asfalto.
Agora faltam apenas um, o ápice chega. Olho ao redor e mais uma vez constato que tem alguma coisa errada por aqui. Parece que a loucura me tomou, parece que eu constatei o óbvio. A angústia e o susto por uma morte súbita me faz concluir que sou um número. O mundo é uma contagem. Um banco de dados primoroso que nada faz a não ser acrescentar casas decimais em um imenso oito-deitado.
Levanto ainda tonto. O cigarro voa magistralmente em direção ao asfalto. Eu passo pela rua, ela passa por mim. Minha casa fica a duas quadras. O coração volta a bater normalmente mas a sensação de morte persiste. Um assassino está por aí e talvez me encontre. Não tenho dinheiro algum e morrerei por isso.
Penso em correr pela rua e chegar em casa mais cedo. Penso estar começando a ficar louco. Talvez já esteja e não saiba. Os pensamentos chegam numa velocidade indescritível. Chego em casa, uma dor de cabeça infernal vai oscilando. A vontade de escrever aparece, tenho que correr senão ela morrerá. As idéias morrerão.

2 comentários:

Unknown disse...

esse ficou foda!

Saulo Dourado disse...

não, Patrick, eu digo que é com "ph": phoda. Um phoda clássico.