terça-feira, agosto 04, 2009

Uma Merda


Eu sei que o tempo não existe, mas a sensação do mesmo é parecida com uma nausea intermitente, as vezes você se da conta e fica com uma sensação ruim, as vezes é indiferente. Enfim, isto está me incomodando intensamente agora, acho que vou vomitar.

Até o dia de hoje passei boa parte de minha vida criando planos e projetos para não simplesmente passar pela vida e ser direcionado pelas tendências. Minha idéia era fazer algo realmente diferente, tentar mudar a realidade em alguma instância, nem que fosse pra chamar atenção acerca de algo que incrivelmente não havia sido observado.

Enfim, hoje, depois de tanto tempo, consolidei meu pessimismo de uma maneira sem precedentes. Antes, eu achava que tudo ia dar errado só por uma questão de expectativas. Se desse certo, seria uma surpresa, caso não, ficaria apático, frente a algo que eu já esperava.

Agora não, eu tenho certeza que não há jeito nem remédio, não há alternativa nem conformação. E o pior, do jeito que está, o rumo final é algo absurdamente péssimo. Péssimo mesmo.

Sabe, estudei em escola particular a vida toda, e não sei até onde isso influencia, mas eu tive pressões ambientais terríveis para que fosse muito diferente do que sou hoje. Primeiro que nem todos os professores eram bons, mas os bons sobressaiam e muito em relação aos demais. Desde cedo comecei a duvidar de tudo e estabelecer alguma criticidade que, julgo eu, ser fundamentada na maioria das vezes. O melhor da escola foi o senso crítico e o poder do arrependimento. Voltar atrás e mudar é algo muito bom, por mais que não se estivesse errado. A imutabilidade é uma amputação mental.

Da mesma forma que os professores mau-educadores, a família e a igreja ajudaram muito pouco. Com a igreja aprendi um pouco sobre a sinceridade e, felizmente levo isso comigo até hoje. Com a família, bem, me deram escola, roupas e alimento. Biologicamente falando é o suficiente. No fundo, no fundo, até hoje ainda sinto as brasas daquele inferno, mas agradeço, porque as experiências me fazem refletir sobre qualquer ato meu. Não tolero hipocrisia. Se eu virar a cópia de algo que eu abomino, tenha certeza, meu corpo será piedoso comigo e me dará um fim bem trágico, de tanta tristeza.

Munido das experiências e de um inconformismo ululante, tentei pensar na maneira melhor de mudar a realidade das pessoas que não tiveram o mínimo de oportunidades que eu tive e, provavelmente, com os mesmos ou piores problemas que eu. Pensei, pensei, e achei que era só adicionar paciência á prática. NADA.

Existe uma impossibilidade de tentar ser um professor com visão emancipatória. Veja, são 50 minutos para disciplinar, dialogar e mediar o conteúdo. Não interprete mal a palavra disciplina. Não é uma questão militar nem de treinamento visando uma atitude adequada sempre. É só uma questão de convivência. Ouvir e ser ouvido, respeito. Só.

Depois de mais de um ano nesse meio, percebi. Não dá mesmo. Não estou jogando a toalha, mas pense, este pouco tempo, somado com a vida conturbada que cada um tem, a miséria de alguns, a falta de atenção que é dada a outros. A escola é o momento deles brincarem, serem os mais instintivos possíveis. Inquietos, destruidores, agressivos. Tudo que os hormônios e os sentidos lhe direcionarem será feito.

Eu, que já me inseri numa tranquilidade mais ou menos, agora volto a agonia. Desta vez é fruto de um desconforto, do stress diário pelo dever não cumprido. Pela decepção. Pela decaptação dos sonhos.

Vinte e dois anos não são nada, mas foda-se, não vivi nada e o pouco que quis sempre ficou pra trás. Nunca quis ser o beija-flor que apaga o incêndio da floresta, mas é absurdo ver todo mundo se queimar sem se incomodar.

Se não bastasse isso, os anos passam e você fica cada vez mais só. Não só isso, tudo que já foi próximo a você acaba virando algo inalcançável. Não sei se é porque eu sou saudosista demais, mas de uns tempos pra cá eu tenho pensado mais no meu passado do que no meu futuro. Uma saudade estranha que me consome. Sonhos antigos, que eram complicados, viram utopias impossíveis. Adoro utopias, mas está num nível insustentável. Todos os meus sonhos viraram utopias, todos os meus sonhos vêm se condensando com o tempo, virando partículas diminutas num pequeno espaço, inatingíveis ao tato.

Tudo anda tão mal que eu já ha um tempo tenho adotado uma postura apocalíptica. Se tivesse que orar, seria para o fim dos tempos. Para o fim desta realidade. Para dar uma nova oportunidade, um novo recomeço. Uma espécie de higienização. Não é o caos que me incomoda, ele as vezes é um ótimo oxigenador, ajuda-nos a perceber a realidade que sempre esteve ali. Me incomoda envelhecer, e ver o mundo exatamente como esta agora. Uma merda.