segunda-feira, setembro 29, 2008

Apatia

Hoje eu consegui definir o que causa pelo menos uma forma de apatia. Não a social, porque isso é um ponto onde várias setas insidem e seria fora de minha vontade tentar falar de cada uma delas, e sim a particular, essa que nos faz tocar violão em pé na sala, sem formar acorde nenhum. Há ânimo para alguns projetos, em alguns momentos, mas parecem tão distantes de se executar.

Apatia [s.f.] - Estado emocional que se manifesta quando ir embora é perigoso e ficar é inquietante.

sábado, setembro 27, 2008

A Angústia dos Lugares

Consigo gostar de quase tudo que faço a ponto de querer estar exatamente onde estou. Mas aí que está: na verdade eu gostaria de qualquer outro lugar que me desse as condições iguais de fazer o que faço. Ler sem ordem, escutar música enquanto lavo prato, sair gratuitamente, poderia ocorrer em muitos outros pontos do globo. De modo que nada me impediria, além de grana, de estar em outro lugar, vivendo essas mesmas boas coisas. E talvez em outro lugar elas soassem ainda mais encaixadas, mais fortes, ou até tivessem um tom que me fizessem gostar de outras coisas anexas. Enfim: fico angustiado em querer saber como seria o meu jeito de viver, mesmo que fazendo sempre as mesmas coisas em todos os jeitos, pra cada lugar que existe.
A grande inquietação é saber que existem centenas de possibilidades, em centenas de cidades, capazes de me pôr em vias distintas de contentamento, e para todas elas, um distinto grupo de pessoas. Existe gente que me faria sentar na calçada e conversas horas, todos os dias, mas que apenas por um azar geográfico, não vou conhecer. Existem moças que me amariam com afinco, e eu de volta, que não me encontrarão. Existem formas de vida que me absolutalizariam ainda mais e que, talvez, por um descuido, por uma falta de imaginação nas escolhas, eu nunca vá viver.
E sim, repito: as coisas que faço aqui são as que realmente eu pretendo fazer sempre, e se um demônio chegasse, como propôs Nietzsche, e me indagasse se eu suportaria viver dessa forma num eterno retorno, eu responderia que, conceitualmente, sim. Mas e o lugar pra esses conceitos acontecerem? Ok, pode ser esse aqui, mas o aqui é sempre a angústia da co-existência de todos os outros.

segunda-feira, setembro 15, 2008

Morfina

Olá.
Anos depois o MA se concretiza. Não sei se é pelo fato d'eu ter muita coisa fresca na cabeça ou se é pela simples motivação de criar um blog com uma pessoa tão legal, Saulo (por favor, não choremos mais), que sinto uma inspiração pulsante aqui.
Demorei ainda algum tempo pra registrar algo aqui pois eu já sei que este, como sendo o primeiro post meu, vai ser também o primeiro a ficar pra trás. E se eu gostar dele? E se toda diversão e outros sentimentos bons estiverem aqui (ou ruins que levam a bons). Ele simplesmente vai ser esmagado pela barra de rolagem, até o infinito. Depois será mais um nos arquivos do blog.
Entretanto, vim pensando a pouca hora. Porque mesmo que escrevi pra Saulo ha alguns dias chamando-o para completar o incompleto de 3 anos atrás? Seria pra aumentar o número de comentários? Adsenses do Google? Popularidade? Nada disso. Se tem algo que eu ja disse, num comentário anterior, é que (ultima rasgação de seda daqui =P) me agrada muito dialogar com o Dourado (que gay isso!), e, logicamente, estamos em mundos diferentes, mas, aqui, em teoria, da pra aproveitar muito. Não é exatamente como estar na praia, de madrugada, e tropeçar em algum conhecido e abraça-lo. Mas, é algo bom. Algo que espero que dure o suficiente e não seja um compromisso, mas um prazer (ui!).


Bem, o ocorrido foi há quase uma semana. Eu fiz uma cirurgia, a primeira. Antes disso só fui cortado por grampeadores e estiletes em aulas de desenho. Aliás, ocorreu-me uma vez um furúnculu no cotovelo. Sim no COTOVELO. Um lugar tão miserável para se aparecerer este bendito de nome esdrúxulo que eu tive que fazer uma micro-mini-cirurgia. De tão mini, a anestesia foi uma pomadinha e unica coisa diferente do procedimento foi um dreno e uma dor prolongada que foi covardemente presenteada a um menino de 12 anos.
Minha maravilhosa cirurgia de agora passa longe disso aí. O prógnóstico era Varicocele (varize no ovo - bago - esquerdo) e hérnia (protusão de um órgão- no caso o intestino) inguinal (região) à direita. Estou eu aqui tal qual uma mulher recém parida, de resguardo depois do corte cabuloso da cesariana. O corte é igualzinho igualzinho, se eu fosse uma mulher, poderia tirar o filhinho ainda agora.
Tirando o aspecto trágico qual me encontro agora, que até coceira nas nádegas apareceram e espinhas, devido a um intenso tempo deitado e sentado, a parte mais plausível de se contar é realmente o pós-cirurgico.
De certo que sabia que me cortariam todo e eu ficaria como inválido por uns 15 dias imaginei que seria tudo mais ou menos tranquilo. Cheguei lá já começando com a infelicidade do constragimento. A infermeira vem logo perguntando se eu já estou 'raspadinho', e eu, tive que mostra-la que não. Minha mamãezinha foi quem me salvou e com uma lâmina de barbear semi-cega, despentelhou-me, enquanto eu balançava em pé no banheiro, devido ao Valium que a infermeira meteu-me guela abaixo.
Aí vem as burocracias. Cadê os exames? Vai a mãe em casa procurar e nada. Vai a namorada em casa procurar e nada. Os exames sei lá porque eu coloquei dentro de uma mochila. A demora foi tanta, que depois que acharam o efeito do tranquilizante passou. Eu ainda precisei esperar mais uma hora pra que a enfermeira almoçasse e tudo mais. Por fim, a cirurgia marcada para 7:30 da manhã começou às 3h da tarde.
- Enverga a coluna direito. - Dizia com a maior tranquilidade do mundo o anestesista...
"Como assim 'direito'? O que você faria se soubesse que alguém vai meter um agulhão no meio de suas costas?" Eu não sei como é o procedimento, mas ele meteu foi duas vezes. A primeira eu sentado e a outra eu deitado.
- Deite e fique na posição de frio.
Posição de frio? Que posição louca é essa? Foram quase 10 minutos com isso. Queta... E depois que ele tirou a agulha do tamanho de uma caneta eu ainda pensava que estava em minhas costas.
- Mecha as pernas.
Rapaz, quem disse que dava pra mecher? Eu botei toda força do mundo e nada. Ai veio ele depois dizer que ia me dar uma 'coisa' pra eu relaxar. Morfina o nome da danada. Eu apaguei que eu nem senti. Acho que se ele tivesse pedido pra eu contar até 1 a 10 eu nem tinha chegado no 1.
Eu acordei no meio da cirurgia. Vi as luzinhas. Beleza, to vivo. Eu nem tinha percebido ainda que estavam me operando. Quando eu vi aquele pano verde em minha frente foi que eu vi. Vixe, será que passouo efeito da anestesia? O bom foi que nem deu tempo de raciocinar. Olhei pra cima e vi um degrade que ia do verde ao vermelho, e em baixo a mesma coisa. Ai eu pensei 'a sala é espelhada?'. Como minhas mãos não estavam presas, eu dei uma de conversador e puxei o guarda pó do médico:
- Venha cá seu doutor, que sala é essa? As luzinhas? Que luz é essa?
Ele deu uma rizadinha e falou pra eu ficar quietinho. Um segundo depois eu apaguei.
'Ar luzinha'. Acordei na sala pensando nelas. Na graça que era puchar o guarda pó do médico. Ele apareceu e mandou eu mecher as pernas, que ainda estavam dormentes. Eu nem sei porque, e nem sei onde arrumei tanta flexibilidade, mas eu, que me acostumei com o mesmo pedido de horas atrás, usei tanta força que a perna quase veio em minha cabeça. Sorte que ele segurou.
Todo cortadinho, comendo mamão pra soltar e mijando todo dia um bocado. Talvez do 'nada pra fazer' eu tenha me motivado a chegar no scrapbook de Saulo e reviver idéias antigas. Bem bem, que se acostumemos então a postar aqui. E você que agora lê, se acostume com os erros, pois eu raremente corrijo escritos.
Até a próxima (ai...)

ps: saulo saulo, se encarregue de utilizar sua lista de e-mails para uma divulgação unica. dai em diante só o acaso.

Aqui

Montar blog não é algo que exija qualquer explicação. É fácil, você entra, faz, publica e não precisa de pretexto algum, porque existem coisas, como essa, que quando muito naturalizadas, não cobram mais uma nota prévia, um porquê. E mesmo que tudo tenha uma historinha que anteceda, coisas comuns perdem o direito de contá-las. Só às vezes uns insistem e no final a historinha nem tinha tanta graça assim, porque acabou no exato ponto em que qualquer um poderia acabar. E se pára de insistir? Pro nosso pior.
Foi idéia de Anderson, quando eu lhe narrei um causo cheio de coincidências. Nós nem nos encontrávamos tanto assim, até hoje inclusive, mas o que ele propôs me pareceu fácill: escrever causos e besteiras que nos divertisse. É isso: o bom de Anderson é que, apesar de todas as conversas pessimistas que você possa ter com ele, as coisas, ao seu toque, sempre parecem mais fáceis de serem vistas, digeridas, vividas. Bom, não aconteceu o blog naquela época. Eu larguei a escola (não definitivamente), ele saiu dela meses depois e foi viver no interior. Enfim: mundo pros dois.
Pelo início desse ano que a gente foi se reencontrar e de um modo que bem revela o título disto aqui. No porto da barra, às duas da manhã, eu caminhando perdido de um grupo, ele passando uma semana ou duas em Salvador. Conversamos, bem gratuitamente, como deve ser uma boa conversa. Nos despedimos, prometemos um qualquer dia desses aí. E uma semana depois, ele falou tarde da noite pelo msn, se eu queria passar em Stella Maris pela manhã.
O dia, com manhã embriagada, gato achado na rua, vexames com irmã, gente encontrada sem querer na praia, diálogos sobre o fim do mundo, simbolizou o que mais me dá gosto no meu movimento diante de todas coisas, o fluxo completo, o caos dos acontecimentos, a possibilidade para o imprevisível. Tento, e muito mais de uns tempos pra cá, fazer da vida o meu próprio objeto, e não servi-la de base para construir algo que faça, ilusoriamente, mais sentido do que ela mesma, seja uma grande carreira, ser aclamado, eternizado. Só se for natural, se acontecer assim junto dela. Caso não, a vida que seja e quando acabar, que eu acabe também, e desse jeito que deveria ser, porque só ela que realmente valia. E aquele dia foi algo O Apanhador no Campo de Centeio, coisas simples que ora ou outra representavam o que viria pouco tempo depois: ele iria voltar para Jequié e tomar umas decisões, e eu iria começar a faculdade, depois de uma jornada antológica.
Nesse dia Anderson tocou de novo no assunto do blog. Disse que sim, mas metido em bobagens literárias, de planos, grandes planos que me completavam, acabei enrolando e não soube deixar acontecer. Meses depois, ele mandou uma mensagem inquiridora. Confirmei. Daí só dois dias, dois cliques. E fincamos. Que seja. Qualquer coisa.