sexta-feira, fevereiro 06, 2009

A Volta

Eu não quero escrever nada. Vem aquela trava na altura do bíceps, que desce num fluído para o antebraço e recolhe os dedos. A má vontade parece estar exatamente entre meu peito e minha garganta. Ou nas minhas sobrancelhas inclinadas, para quem pode apenas me ver e não me sentir. É de uma força tamanha que me faz parar a cada frase. Essa veio com o mesmo tempo de espera que eu teria num parágrafo. Não sei, simplesmente não quero e isso me acontece há tempos. Mas preciso voltar, preciso voltar a querer, se é que se pode obrigar. Não obrigar, mas quem sabe no tropeção de uma palavra encontrar o fio que me conduzia antes. Talvez uma expressão me alegre e me imponha a escrever, num enchurrada, como alguém sonolento que ao ser tocado num ponto exato do corpo desperta. Vou tocando em mim e contra mim até encontrar. Porque preciso. Não vejo outro caminho mais significativo para eu retornar a ser o que eu era. Quando estava mais vivo e contava histórias minhas como um grande ocorrido, e sentia uma enorme satisfação em estar entre muitos, e me sentia bem, seguro, escrevia com vocação. Era um ofício em que a vida acontecia para ir até ele. Era exagerado, uma obsessão, mas se vier novamente apenas um pouco disso, posso voltar a ter vontade de tudo. Sinto falta de muita coisa, como se estivesse enclausurado. Não amo mais ninguém e isso é o que eu defino como fim. Não pretendo estar no fim. É uma ordem continuar, claro, e isso só é possível se amo, que só é possível se me disponho para o mundo. Escrever - era o meu sentido salvo.

Um comentário:

Álvaro Andrade disse...

engracado que tambem jah situei as palavras perdidas entre o coracao e a garganta. lembra dum poema?
e se voce tambem o fez talvez tenhamos razao, pode ser este o local exato das coisas nao ditas.
porem nao creio que elas se percam. retornam, descansam, e a maioria volta um dia, mesmo que com outro destino ou vontade.
quem nasce pra escrever nao foge a regra, por mais que as modelemos, elas mandam, as palavras.

escrevi um poema sobre vc, meu velho. veio quando vi suas fotos no orkut, depois te mostro.

abraco.